sábado, 16 de março de 2013

Squidward's Suicide


Quero começar dizendo que, se você espera uma resposta no fim, ficará desapontado. Não há.

Eu trabalhava de estagiário nos Estúdios Nickelodeon há mais ou menos 1 ano, para minha formação em Animação. Não era paga, é claro, mas a maioria dos internos também não eram: isso serviu de impulsão para minha carreira. Para os adultos, pode não significar muita coisa, mas a maioria das crianças se matariam por um emprego assim, mesmo que não remunerado. Desde que eu comecei a trabalhar diretamente com os editores e animadores, eu recebia um "prévia" dos novos episódios, alguns dias antes de eles irem ao ar.

A nova temporada estava demorando demais por razões que ninguém conseguia explicar. Havia um problema com o lançamento da quarta temporada, o que deixou a maioria da equipe longe por vários meses.

Dois outros estagiários e eu fomos levados à sala de edição junto com os animadores e editores de som para algumas edições finais. Recebemos a cópia do que supostamente seria "Fear of a Krabby Patty (Medo de um Hambúrguer de Siri)", e fomos conduzidos à tela para assistir. Por vezes, os animadores colocavam uma fita de título subersivo (era uma piada interna), por exemplo, "How Sex Doesn’t Work" em vez de "Rock-a-by-Bialve", o episódio em que o Bob e o Patrick adotam um filhote de ostra. Não havia nada particularmente divertido, exceto por algumas piadas relacionadas ao trabalho. Até que vimos uma fita com o nome "Squidward's Suicide", não fizemos nada além de uma risada doentia. Um dos internos até deu uma gargalhada. A música alegre de abertura tocava normalmente.

A história começa com Lulamolusco praticando com sua clarineta, tocando algumas notas ruins e azedas, como é de costume. Ouvimos o Bobsponja rir de longe, e o Lula parou. Ele gritou com Bob e disse que teria um concerto aquela noite: precisava praticar. Bob obedece e vai até a casa da Sandy com o Patrick. As bolhas de uma cena para outra aparecem e vemos o fim do concerto do Lulamolusco. Aí que as coisas começam a ficar bizarras. Enquanto tocava, alguns frames começavam a se repetir sozinhos, mas o som não saía (nesse ponto, o som era para começar junto com a animação, então sim, não era algo normal). Quando ele parou, o som continuou normalmente como se aquela repetição nunca houvesse ocorrido. Houve um pequeno murmúrio na platéia, antes de todos começarem a vaiá-lo. Mas não era um "buu" comum de desenhos infantis, poderia facilmente ouvir-se malícia nisso. O Lula estava na tela toda e seu estado estava visivelmente assustado. Há um "close" na platéia, onde observamos Bobsponja em seu centro. Ele também estava vaiando, o que não é muito comum. Isso não é, de longe, a coisa mais estranha. O mais esquisito, é que todos tinham olhos hiper realistas. Era muito, muito detalhados. Não eram recortes de olhos de pessoas normais, mas algo bem mais realista que Animação em CGI. As pupilas estavam marcadas. Alguns de nós nos entreolhamos, obviamente confusos, mas como não éramos os escritores, não questionamos nada... ainda.

A cena vai para Lulamolusco sentado na ponta da cama, parecendo muito desapontado e desesperançoso. A imagem na sua janela mostrava que era noite, então não fazia muito tempo que o concerto havia terminado. Nesse momento não tinha som. LITERALMENTE, não tinha som. Não ouvíamos nada, além de poucos sussurros na sala. Era como se os falantes estivessem desligados, embora o mostrador mostrasse que eles funcionavam perfeitamente. Ele estava simplesmente sentado lá, piscando, em silêncio a quase 30 segundos, até que começou a soluçar baixinho. Ele pôs seus tentáculos sob os olhos e chorou por volta de 1 minuto, o som de fundo lentamente crescia, era algo que mal se podia ouvir, como uma brisa na floresta (só que bem mais "creepy" que isso).

A tela lentamente deu um zoom em seu rosto. Mas LENTAMENTE eu quero dizer, você apenas notava o zoom 10 segundos depois de ele ter começado. Seu soluço ficou maior e cheio de dor, agonia e raiva. A tela começou a se contrair por alguns segundos e depois voltava ao normal, como se estivesse viva. O som "além-das-árvores" ficava vagarosamente mais intenso e severo, como se uma tempestade estivesse vindo de lugar nenhum. O mais assustador de tudo era o soluço do Lula, parecia real demais, como se não viesse dos alto-falantes, mas de algum ponto de dentro, ou mesmo de fora da sala. A qualidade do som era tão surpreendente, que não precisaria de bons equipamentos para ouvirmos tão bem.

Abaixo do som do vento e do soluço fantasmagórico, algo soava como se estivesse rindo. Isso vinha em esquisitos intervalos e nunca duravam mais de um segundo, você tinha que se concentrar bastante para ouví-lo. Depois de 30 segundos disso, a tela embaçou e começou a contrair violentamente ao passo que flashes saíam da tela - era como se uns poucos frames estivessem corrompidos. O líder editor parou e rebobinou frame a frame, o que vimos foi HORRÍVEL. Era a foto de uma criança morta que não deveria ter mais de 6 anos. Seu rosto estava em carne-viva havia sangue por todo lado, seu olho esquerdo estava fora das órbitas, pendendo sobre o rosto ao avesso. Ele estava nú a não ser por uma roupa de baixo, seu abdomem aberto, com os órgãos à mostra. O lugar era alguma rota pavimentada (provavelmente sofreu um atropelamento). O mais entristecedor era a sombra do fotógrafo, claramente vista por todos. Não havia marcas de pneus, nem nenhuma outra evidência, era quase como se o fotógrafo fosse o responsável pela morte da criança;

Estávamos, claro, abismados, mas continuamos assistindo, rezando para que fosse mais uma piada doentia. A tela voltou ao Lula, ainda soluçando. Um soluço mais poderoso que o anterior, mostrando apenas metade do seu corpo, as mãos no rosto e sangue saindo de seus olhos. O sangue era outra coisa hiper-realista, parecia que você poderia tocá-lo com os dedos. O que soava agora, era como uma tempestade na floresta. Havia até o som de alguns galhos quebrando. A risada, profundamente subversiva, vinha e ia com mais frequência. Depois de quase 20 segundos, a tela novamente embaçou e se mexeu violentamente. O editor estava hesitante em voltar a fita, assim como nós, mas todos sabíamos que ele tinha que fazê-lo. A foto desta vez era de uma garotinha um pouco mais velha que o menino anterior. Ela estava deitada, com uma poça de sangue próxima a ela. Seu olho esquerdo também havia sacado e ela estava nua, a não ser novamente pela roupa de baixo. O corpo estava na estrada e a sombra do fotógrafo era visível, muito similar ao primeiro. Todos estavam quase catatônicos, um vomitou e a única mulher na sala correu.

O show foi retomado. 5 segundos depois que a segundo foto foi mostrada, todo o som parou, da mesma forma que aconteceu quando a cena começou. Ele tirou os tentáculos dos olhos, os quais eram hiper realistas como os dos outros no início do episódio. Eles estavam sangrando e pulsando. Lula encarava a tela como se estivesse observando o telespectador. Depois de 10 segundos, ele começou a soluçar e cobrir os olhos novamente. O som voltou, agora mais assustador do que nunca: seu soluço estava misturado com gritos insanos. Lágrimas e sangue estavam caindo de seus olhos muito mais que antes. O vento voltou e então, o som de uma risada profunda. A próxima sequência de contrações começaram, e editor estava pronto para pará-la antes de terminar, ele rebobinou. Desta vez, a foto era de um garoto, na mesma faixa etária que os anteriores, mas a cena era diferente: suas entranhas estavam sendo puxadas por uma mão enorme e seu olho direito pendendo sobre o rosto coberto em sangue. O animador prosseguiu. É difícil de acreditar, mas as próximas cenas eram mais chocantes e intensas que as anteriores, eu nem posso descrevê-las. Fomos seguindo e seguindo, assistindo quase sempre a mesma coisa. Chegou a um ponto em que eu perdi o controle e vomitei. Os outros estavam tossindo e com lágrimas nos olhos. Então chegamos um ponto crucial: alguns frames eram diferentes dos outros, exatamente 5. Cada frame era uma sequencia da foto anterior. Vimos lentamente a mão chegar perto dos olhos e então arrancá-los. O editor ordenou que aquilo parasse e mandou que chamássemos o criador, pessoalmente, para ver aquilo. o Senhor Hillenburg chegou depois de 15 minutos. Ele estava muito confuso do porquê o chamaram ali, então o editor continuou o episódio.

Depois que os 5 frames foram mostrados, todos os gritos e todo o som novamente parou. Lula estava encarando o espectador, seu rosto inteiro na tela, por quase 3 segundos. Rapidamente tudo ficou escuro e uma voz profundamente insana disse "DO IT". A próxima coisa que vimos foi uma arma (shotgun) nas mãos do Lulamolusco. Imediatamente colocou o cano na boca e puxou o gatilho. Sangue hiper realista e restos de massa encefálica chocaram-se com a parede, Lula foi jogado para trás com força. Os últimos 5 segundos mostraram o personagem desfigurado deitado na cama, com um dos olhos pendendo, olhando fixamente para a tela. O episódio acabou.

O Senhor Hillenburg estava, obviamente, zangado com isso. Ele ordenou que todos explicássemos o que diabos estava acontecendo. A maioria das pessoas já havia deixado a sala, nesse momento, então tivemos que apenas assistir tudo de novo. Só de pensar em assistir tudo novamente, me causou náuseas e pesadelos. Desculpem, eu saí.

A única teoria que podíamos pensar era que alguém invadiu o estúdio e editou o arquivo. A polícia foi chamada para analisar o que estava acontecendo. A análise mostrou que aquilo realmente foi editado, mas o contador-de-tempo da edição era de meros 24 segundos antes de começarmos a assistir. Todo o equipamento envolvido foi examinado pela perícia. Potentes programas procuraram por erros (glitches) - como o do contador de tempo que, certamente, estava errado - mas tudo que foi checado estava bem. Não sabíamos o que estava acontecendo, na verdade, nesse dia ninguém sabia. Houve uma investigação para saber a natureza das fotos, mas nada foi concluído. Nenhuma criança foi indentificada, nenhum acidente (ou homicídio) com as características. Nenhuma prova ou evidência. Nada. Eu não acreditaria em tal fenômeno se eu não estivesse lá.

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