Nada faz sentido.
Nada. Haviam passado-se anos, e nada se realizou.
Casei-me, tive filhos, arranjei um emprego, me mantive e cresci dentro dele, tinha tudo pra me manter em uma vida razoável, mas nada havia se realizado.
Meus sonhos mantinham-se distantes, minhas esperanças nulas.
Minha vida rumava há um buraco negro, cheio de caos, vazio, e solidão.
Não havia porque continuar.
Mesmo assim, ainda mantinha minha casca alegre, minha família, amigos, todos achavam que eu era a pessoa mais satisfeita do mundo.
Ninguém podia saber dos meus medos, das minhas angustias, minhas fraquezas. Porém, já não tinha como continuar. O medo me seguia por todos os cantos. Meus prantos eram em silêncio, mas eram contínuos.
Passaram-se meses, e eu não havia dormido sequer vinte horas. Não havia, mesmo, um porque continuar.
O tiquetaquear do relógio me assombrava, os rangidos noturnos da casa mais ainda. Pareciam rir de mim. Riam o tempo todo. Meus amigos, minha família, estranhos na rua, todos riam de mim, gargalhavam.
O suor escorria pela minha testa. Minhas mãos tremiam como nunca. Não havia mais o que fazer, os demônios todos me cercavam. Me assombravam. Em meio a esse mar de tormentas, não havia mais o que fazer, a não ser puxar o gatilho e acabar com tudo.
Meu desespero chegara ao fim. A luz veio a meus olhos, minhas metas foram alcançadas.
Sorrio, penso como o mundo é um lugar horrível.
O metal frio encostado em minha fronte, os últimos segundos de tensão, a pressão sobre o gatilho, e o barulho da bala atravessando meu cérebro, abrindo minha cabeça, e, enfim, me trazendo paz.
De repente, tudo fez sentido.
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