Antes de começar, quero dizer que já se passaram três meses desde o
ocorrido. Só agora tive coragem de resolver falar sobre este assuntor. Eu
tenho que contar o que aconteceu comigo, para que não aconteça nada a
mais ninguém.
Transformice é um jogo online mega viciante criado
em 2010. Você controla um rato, e seu objetivo é pegar o queijo e entrar
na toca em primeiro lugar. Aparentemente é bem simples, mas a
dificuldade devido ao nível de habilidade dos jogadores acaba deixando-o
bem divertido.
Eu costumava jogar esse jogo nas madrugadas de
sábado para domingo, já que não iria trabalhar no outro dia, e como
estava sem sono e não há absolutamente nada para fazer nessas horas, era
um bom passatempo.
Era por volta de 1:36 da manhã quando eu
loguei na minha conta. Como grande parte dos jogadores são
pré-adolescentes, não se espera ver muita gente online a essa hora.
Então eu poderia jogar tranquilo na sala 1, que geralmente é bem cheia
na parte da tarde. Tinha cerca de 22 ratos lá.
Continuei jogando
até mais ou menos 2:42 da manhã, e já estava pronto para parar por aqui.
Só estava esperando ser Shaman pela última vez para desligar o
computador e ir para a cama. Porém, do nada, apareceu a tela de
"carregando" do jogo e meu rato foi direcionado a outra sala. No início
não estranhei, já que isso já havia acontecido outras vezes. Na sala, só
haviam dois jogadores: eu e outro, que usava o nickname de
"Haunteduser". Já que todas as outras salas que eu costumava frequentar
estavam vazias, resolvi ficar por lá mesmo e treinar um pouco. E foi aí
que as coisas começaram a ficar estranhas.
O
Haunteduser, que permanecia calado durante a passagem de cinco mapas,
me enviou uma frase por cochicho, a maldita frase que não sai dos meus
pesadelos desde então.
"E quando o relógio badalar o reverso da ressurreição, o prenúncio do sacrifício pela existência do maligno será anunciado."
Obviamente
não entendi nada, então respondi apenas com um ponto de interrogação.
Então ele continuou, agora no chat da sala, enviando algumas frases que
não faziam o menor sentido, seguido de vários floods do número "666".
Por coincidência, notei que eu estava na sala 666, não havia notado
antes. E depois de soltar algumas frases estranhas, como "There's no
hope..." (Não há esperança..) e "Malicious boy..." (Garoto maldoso...)
várias vezes, percebi que era apenas um idiota metido a satanista
fazendo gozação comigo.
Resolvi ignorá-lo e continuar jogando. De repente, ele soltou mais uma frase:
"O que acontece quando uma alma inocente é lançada ao inferno?"
Ignorei
novamente, até que ele disse o nome da minha namorada: "Melissa...", o
que me fez dar um pulo da cadeira. Meio assustado, perguntei: "Quem é
você?". Nenhuma resposta. "Responda, desgraçado! Qual é o problema?".
Novamente nenhuma resposta. "Diga logo quem diabos é você!". Foi então
que ele finalmente me respondeu: "Está com medo, Tom?" Como ele sabia o
meu nome? Fiquei completamente aterrorizado, e perdi a cabeça "Você acha
isso engraçado? Huh? Responda maldito! Eu vou acabar com a sua raça,
seu filho de uma ****!" Não obtive nenhuma resposta aos insultos. E não
obtive respostas por mais ou menos dois minutos.
Achando que ele
não responderia, resolvi desistir e apenas fechar o jogo e acabar com a
brincadeira de mal gosto. Mas, para a minha surpresa, quando tentei
fechar a página do meu navegador, eu não conseguia. Tentei atualizar a
página, porém o jogo permanecia alí. Tentei até desligar o computador,
porém um som de "tum" agudo indicava que isso não era possível. Já
estava pronto para desligar o computador pelo estabilizador, quando
Haunteduser soltou mais uma sequência de palavras sem sentido.
"There's no hope..."
"Malicious..."
"Malicious boy..."
E disse uma última coisa antes de sair: "É melhor preparar-se, Tom. A alma dela agora é minha."
Antes
de que eu pudesse perguntar sobre o que ele estava falando, ele saiu da
sala. Fiquei sozinho. Quando olho no relógio, ele marca exatamente 3 da
manhã. De repente, o telefone toca, e é o irmão da minha namorada,
dizendo que ela passou mal no meio da noite e foi levada para o
hospital.
Me troquei o mais rápido possível e fui até o hospital
em que ela estava internada. Assim que acabara de chegar, sua mãe estava
se desmanchando em lágrimas. Seu pai estava sentado no sofá da sala de
espera, com as mãos juntas perto da boca, e os olhos vermelhos e cheios
de lágrimas. Seu irmão esmurrava as paredes enquanto chorava
desesperadamente, e os enfermeiros tentavam segurá-lo. Foi então que o
médico chegou perto de mim, e disse que Melissa teve uma parada cardíaca
e não resistiu. Ela estava morta.
Naquela noite eu não consegui
dormir. Nem nas noites seguintes. Aquela maldita profecia feita por
aquele maldito sádico assombrou os meus pesadelos por várias e longas
noites.
O corpo de Melissa foi levado para o IML para saber a causa
da morte, que até então era desconhecida. Ela não tinha nenhuma doença
cardíaca, nem fumava ou bebia, o que deixou os médicos extremamente
intrigados.
Ainda hoje me pergunto quem era aquele cara. Seria
algum demônio que me amaldiçoou com uma profecia terrível, ou algum
conhecido que só estava realmente gozando da minha cara e tudo aquilo
não passava de uma coincidência macabra?
Passou-se uma semana
após a morte de Melissa. Sua mãe me telefonou, avisando sobre a data do
vélorio. Lá estavam todos os nossos amigos, cabisbaixos, vestidos a
caráter luto. Então sua mãe chegou perto de mim, com um envelope em suas
mãos, que logo me entregou, com uma expressão séria. Meio sem entender,
abri o envelope. Era o resultado dos exames de Melissa do IML. Comecei a
ler, e não pude acreditar no que meus olhos estavam vendo. Na segunda
linha, do segundo parágrafo do exame, dizia:
"Causa da morte: Infecção
por mordidas de rato."
E sabem quem era Melissa?
Apenas uma mulher aqui do meu bairro, e o Tom um dos meus amigos de Escola e Faculdade.