Eu morava a um ano e meio naquela casa. Era pequena. Um quarto, um banheiro, a sala, e a cozinha. Mas eu estava feliz com ela, recebia alguns amigos durante a semana que elogiavam o quanto eu conseguia manter tudo em ordem mesmo morando sozinha. Era simples, ninguém me incomodava e eu não incomodava ninguém. Mas um dia, o sol não amanheceu. A casa se localizava mais ao no lado rural da cidade, onde não haviam muitas casas, e mesmo eu morando a tanto tempo lá eu não conhecia quase ninguém. Só tenho a culpar a mim. Eu sou meio introvertida e optava por ficar trabalhando em meus quadros do que fazer amizade com os vizinhos. Provavelmente esse tenha sido meu erro.
Eu estava deitada em minha cama, dormindo tranquilamente quando ouvi o Bip do despertador do meu relógio digital. No escuro brilhavam em vermelho indicando que já eram nove horas da manhã, e que estava na hora de eu me levantar. Mas, estranhamente, tudo estava escuro. Eu levantei, esfreguei os olhos e olhei o relógio com mais atenção. Não podia ser nove horas se tudo ainda estava escuro. Supus que tinha faltado luz durante a noite e voltei a dormir, já que era domingo e não pretendia fazer mais nada. Dormi mais algumas horas e quando acordei o relógio não estava mais ligado. Eu não estava mais cansada ou com sono, e fiquei deitada na cama. Ainda estava tudo escuro. Por essas horas já devia ter amanhecido. Suspirei. Não conseguia entender nada.
Me levantei e com ajuda da luz do celular me guiei até a janela do meu quarto. Olhei para fora atrás vez do vidro e tudo estava escuro. Nenhuma luz em nenhum lugar por perto. Nem uma casa tinha as luzes ligadas. Fui até o interruptor e tentei ligar a luz, mas não havia nenhuma luz. - Droga - suspirei. Ainda estava meio tonta do sono longo, e me direcionei a sala, até a porta da frente de casa. Abri e me direcionei até a rua. Estava um silêncio mortal. O vento não fazia nenhum barulho, as árvores estavam imóveis, eu não ouvia o barulho de nenhum animal e de nenhum inseto. Era horripilante, como se eu tivesse ficado surda de uma hora pra outra. Bati palma, pra ter certeza de que eu ainda podia ouvir, e o barulho pareceu tão alto no silêncio que ecoou pela escuridão e doeu nos meus ouvidos. Então percebi que podia ouvir meu próprio coração batendo rápido no meu peito. Minha respiração descontrolada, e até o estralar leve do meus ossos de vez enquanto quando me movia. Olhei para o céu sem ajuda da iluminação do meu celular e era como fechar os olhos. Nenhuma nuvem, nenhuma estrela, constelação, nada. Nem mesmo a luz que estava cheia ontem a noite tinha sumido.
Entrei de volta para casa e tranquei a porta. Estava começando a ficar nervosa. Não sabia o que fazer. Tentei ligar para uma amiga que morava na cidade para saber a situação de lá, mas os celular não tinha sinal nenhum. Tentei com o telefone de casa, mas as linha estava muda. Me sentei no sofá e não sei por quanto tempo eu fiquei lá, pensando no que fazer. Deve ter passado algumas horas quando eu levantei, tirei meu pijama, coloquei uma blusa de manga longa e uma calça jeans. Amarrei meus cabelos loiros em um coque e fiquei de pé no meio da sala. Parecia que o dia nunca ia amanhecer, e eu precisava saber que isso não era um sonho, que eu não estava sozinha nessa. A bateria do meu celular começou a apitar e a luz da tela ficou pela metade, e tudo começou a ficar mais complicado. Desliguei o celular, para usa-lo em um momento que precisasse mais. Peguei uma lanterna que tinha na gaveta do meu quarto e sai pra rua. Foi a pior decisão que eu tomei na vida.
Tudo continuava escuro e silencioso. Peguei a estrada de chão, e comecei a caminhar, pois pensei que de bicicleta seria muito perigoso pra cair, e se me machucasse sabe lá quando alguém me encontraria... se é que tinha alguém por aí. Minha lanterna iluminava pouco e ainda por cima uma névoa um tanto grossa. Demorei um pouco até chegar a primeira casa perto da minha, uns dez minutos pelo menos. Bati palmas no portão e elas ecoaram tão alto que bati de bater, sentia como minha cabeça ia explodir. - Tem alguém aí? - falei em um tom não tão alto, quase um sussurro, mas qualquer um em pelo menos cem metros poderia ouvir. Não ouvi nenhuma resposta, e abri o portão (que não estava cadeado). O carro deles estava na garagem aberta, e eles não poderia ter saído daquele fim de mundo sem ele. Fui até a janela e bati com os nós dos dedos levemente. Nenhuma resposta. Apontei minha lanterna no vidro e iluminei porcamente a sala de estar da casa. Não havia nenhum movimento, nenhum barulho, nenhuma pessoa. A única coisa que eu ouvia era meu coração batendo rapidamente.
Andei até os fundos da casa onde havia um imenso milharal. Não sei por qual ideia eu que alguém poderia estar lá, naquela escuridão. Subi em um banquinho e apontei a lanterna para plantação - Olá!? - Nenhum som. - Tem alguém aí? - Perguntei, iluminando em todas as direções. De repente eu ouvi muito distante uma movimentação no milharal. Muito distante, só que era muito rápido. Nenhum ser humano podia se movimentar daquela forma, a não ser que fosse em um carrinho de golf, ou em um quadrículo. Não chamei de novo, agora eu estava apavorada e milhões de ideias estavam na minha cabeça do que podia ser aquilo. Meus olhos marejaram ao pensar em que tipo de ser estaria rastejando numa velocidade daquela pelo milharal.Pulei do banquinho e desliguei minha lanterna, correndo até a porta de trás da casa, e por sorte ela estava aberta. Entrei e tranquei a porta, pois a chave estava lá na fechadura. Me encostei com as costas no armário da cozinha, tentando não chorar, arfar, respirar profundamente, ou qualquer coisa que me fizesse fazer algum som muito alto. Agora eu sabia que o que quer que seja, já estava fora do milharal, pois eu não ouvia o farfalhar do seu enorme corpo contra as folhas. Mas eu ouvia o esmagar da grama, e algo como um gotejar. Era tudo apavorante.
A coisa esbarrou no banco, ou em qualquer outra coisa que eu não tinha visto que caiu sobre o cimento do chão do quintal, e fez um barulho alto demais. Cobri meus ouvidos, e senti a casa e o chão estremecer quando a coisa esbarrou contra a porta, umas três vezes. Me encolhi mais para o canto, senti minhas lagrimas correrem pelo o rosto e depois então o silencio. A criatura parecia estar se afastado lentamente da casa. Tirei meus tênis pois eu tinha medo que até meus passos ecoassem. Fui até a janela da sala, subi no sofá, e apenas espiando pela pontinha da cortina, esperando não ver nada por causa da escuridão, mas eu vi.
Era uma enorme criatura, que devia ter dois metros de comprimento. Era gorda, e comprida, como uma lesma, mas tinha a pele escamosa. Irradiava um tipo de luz própria, não muito forte, mas o suficiente para iluminar seu caminho na escuridão. Ela se movia rapidamente na estrada e logo sumiu de vista. Fiquei ainda um bom tempo na janela, esperando alguma coisa, mais alguma criatura, algum ser humano, ou que pelo menos acordasse desse pesadelo.
Então senti algo envolta do meu tornozelo e minha boca. Algo me puxou violentamente para fora do sofá, mas eu não conseguia gritar. Na verdade meu impulso foi de ficar quieta, e apenas me debater. Então eu ouvi um leve - Shhh. Calma. Fica quieta. - Fique, parei de me debater. Eu ainda tinha minha lanterna e iluminei o rosto de uma garota, talvez um pouco mais nova que eu, com os cabelos pretos amarrados em uma trança do lado da cabeça. Ela tinha os olhos arregalados e inchados, parecia ter chorado muito durante um bom tempo, como..bem, como eu.
- O que está acontecendo? - Ela perguntou com a voz chorosa. Eu não sabia da onde ela tinha vindo, se morava naquela casa ou se eu podia confiar nela. Por essas horas eu já não tinha muito o que fazer se não duvidar de tudo. Me arrastei pra longe dela no chão, ainda apontando a lanterna pra ela. - O-que-está-acontecendo? - Ela sibilou, ainda mais chorosa. - Eu vi, eu vi aquele monstro na rua, eu não sei onde estão todos, meu pais não voltaram ontem pra casa, não consigo ligar pra ninguém...
-Shhh, fala mais baixo. - Falei, me levantando e olhando pela janela. Não havia nenhuma luz, o que me deixava segura que nenhuma lesma gigante asquerosa estava por perto. - Fique calma, okay? Pare de choramingar. Essa é sua casa?- Si-sim. - Ela falou, se levantando.- Lanterna?- Sem pilha.- Velas?- Não.- Mas que merda. - me levantei, passando a mão na cabeça.- Desculpe. - ela falou choramingando, encolhida no chão abraçando as pernas.- Não é sua culpa.
Eu não conseguia pensar direito, tudo girava e o choro baixo da menina invadia meus ouvidos de um jeito absurdo, latejando meu cérebro. Eu só conseguia pensar que devíamos nos deslocar pra cidade, ou para algo que pudesse nos proteger de um jeito mais eficiente. Enquanto eu pensava, comecei a ouvir um choro simultâneo ao da garota que devia agora, olhando pra ela com a luz da lanterna, devia ter uns 14 ou 15 anos. Ela tinha calado a boca, e parecia agora extremamente culpada, enquanto outro choro soava alto vindo de um dos quartos. Marchei até o quarto e abri a porta. Dentro, iluminei uma criança, muito pequena, que devia ter no máximo dois anos, de pé ao lado de uma cama improvisada no chão.
A garota saiu correndo da sala e pegou a bebê no colo, falando para ela se acalmar, e depois de alguns minutos, com o dedo na boca a menina se calou. Fiquei pensando qual seriam minhas chances de sobreviver cuidando de duas crianças. E eu tinha apenas 20 anos. Eu não tinha experiência. E como eu correria rápido segurando um bebê? Mas eu simplesmente não podia deixar as duas sozinhas. Estavam tão sozinhas, pequenas, abraçadas uma a outra, sabendo que suas vidas se dependiam, de alguma forma.
- É sua irmã? - Perguntei para mais velha.- Não. - Ela falou soando mais culpada ainda, e embalando a criança. - Ela estava andando sozinha, chorando na estrada, então eu tive que pegá-la.- Você pegou esse bebê da estrada?!- O que eu devia fazer? Deixar ela lá pra ela morrer sozinha? Sem nenhum pai ou mãe por perto? Com essa escuridão toda? Ela estava apavorada.- Okay, acalme-se, não grite! - Falei tentando acalma-la, com as mãos na minha cabeça, sem ideia do que eu poderia fazer no momento. Me sentei no chão e desliguei a lanterna. A menina pequena começou a chorar baixinho.- Ela tem medo do escuro... - falou a outra, e eu suspirei, ligando de novo a lanterna.- Acho que ela vai ter que se acostumar com a situação e ficar quieta. - Eu não estava com muita paciência para nenhuma das duas. - Qual o nome de vocês?- Eu sou Kate, e ela... bem, a pulseirinha que ela tem no pulso diz "Emily".- Sou Tara. Olha só Kate, eu sei que você já tem idade pra entender qual é a situação aqui, muito séria. A gente tem que dar o fora da sua casa e ir pra cidade, eu sei que é longe a pé, mas se cortarmos caminho pela floresta acho que talvez demoremos umas 3 ou 4 horas caminhando. Vai ser cansativo, eu sei. - Coloquei a mão no rosto. Minha própria voz me cansava, como se fizesse pressão nos meus ouvidos. - Você tem a opção de ir comigo, ou ficar aqui e esperar que tudo volte ao normal. Mas eu não vou ficar aqui esperando ser demorada por essas porras que tão por aí.-Tudo bem, a gente vai com você. Farei o possível pra te acompanhar, junto com a Emily.- Okay...Precisamos comer alguma coisa antes de sair.
Andei para sala enquanto ela vinha atrás de mim. Deixei a lanterna ligada em cima da mesa, e como era daquelas pequenas recarregáveis a mão, eu não tinha medo que ela acabasse. Kate colocou a nenê no sofá, que ficou deitada chupando o dedo enquanto nos acompanhava com os olhos. Ela parecia até calma, pelo menos não ficava chorando o tempo todo. Procurei por algo na geladeira, e peguei pão e preparei um sanduiche de pasta de amendoim para a pequena. Não havia nada que pudéssemos fazer que demorasse muito, então enquanto eu ia sofá oferecer a pequena, Kate fazia um para mim e para ela, e até mais alguns para a viagem.
- Oi. - falei suavemente enquanto sentava do lado dela no sofá. Ela esticou a mãozinha e abanou, sem tirar o dedão da boca. - Está com fome, Emily? - Ela fez que sim coma cabeça. - Olha a tia trouxe um sanduíche pra ti, você gosta?- Sim. - Falou baixinho com a voz fininha, depois de tirar o dedo da boca. Pegou o sanduíche da minha mão e começou a mordiscar como um passarinho.
Kate trouxe o meu e colocou os outros dentro de uma mochila escolar. Colocou umas garrafas d'água também. Comemos e depois de uns 20 minutos, já estávamos saindo de casa.Coloquei meus tênis de volta, pois se cortasse meus pés na escuridão seria mais problema ainda. Kate pegou Emily no colo, mas peguei-a de seus braços. Sabia que se quisesse agilidade, eu teria que levar a bebê por um tempo, pelo menos até pegarmos distancia da casa. Emily se acomodou em meu colo, segurando-se firme, e Kate colocou as mochila nas costas.
Então começamos a andar. Não falávamos nada, e tentávamos ser o mais silenciosas o possível. Também não iluminávamos o caminho pela a estrada, pois era meio perigoso, e de alguma forma nossos olhos já tinha, se acostumado com o breu, e conseguíamos ver a alguns metros a nossa frente. Depois de meia hora andando pela estrada, alcançamos a floresta, e começamos a entrar. Por incrível que pareça, lá dentro conseguia ser ainda mais escura. Qualquer passo que dávamos nas folhas secas e galhos, ecoavam por todo o lugar. Levávamos sustos com nossa própria respiração ofegante ou nossos passos.
Depois de mais de duas horas caminhando, meus braços estavam tão cansados de carregar Emily que tive que parar por alguns segundos. Coloquei-a a no chão e sacudi os braços. Emily se abraçou a minha perna, pedindo proteção e colo.
- Você quer que eu carregue-a um pouco?- Não... eu só preciso descansar um pouco. Me de uma garrafa de água.
Enquanto eu ela tirava as mochilas das costas eu vi uma iluminação ao longe, se aproximando rapidamente. Sacudi a cabeça, peguei Emily no colo e puxei Kate pelo braço. Comecei a correr pela mata me perdendo da trilha que antes acompanhávamos. Emily ameaçava a começar a chorar e eu tentava a acalma-la falando que estava tudo bem. Kate me acompanhava, correndo ao meu lado segurando a mochila tentando não derrubar nada. Corremos muito, por alguns minutos seguidos até eu olhar pra trás e não ver nenhuma luz. Eu não tinha percebido até parar de correr, mas eu chorava. Não aos berros, simplesmente o desespero fazia com que eu derramasse lágrimas correntes de meus olhos, assim como Kate e Emily. Eu sentia o coração da bebê batendo forte, enquanto ela estava pressionada contra mim. Passei a mão na sua cabeça, e disse mais uma vez que estava tudo bem. Por sorte, eu conhecia o caminho, e estávamos nele.
Vi a frente a colina, e coloquei Emily no chão. Tirei as coisas de dentro da mochila deixando no chão. Sabia que no topo daquele lugar conseguiria ver a cidade e uma estrada que chegaria nela rapidamente. Coloquei Emily dentro da mochila, que apesar da menina ser pequena, ela ficava quase caindo pra fora. Coloquei na parte da frente do meu corpo, e Emily me abraçou meu pescoço. A colina inclinada demais, então tinha quase que me rastejar, e me apoiar nos matos, por as unhas na terra para subir. Kate subia mais rápido que eu, e já no topo me puxou, e pegou Emily no colo. Sentei no gramado, e olhei a cidade. Eu não sabia o que pensar.
As únicas luzes que dava para ver eram de carros do exercito e tiros que eram disparados a todo o momento. Alguns helicópteros rondavam o céu, iluminado algumas partes. Havia diversos carros correndo para fora da cidade, desesperados, na maior velocidade que podiam, mas o engarrafamento era quase obvio.
Kate em seu desespero desceu o resto da colina em desespero, cansada e suja de terra. Emily em seu colo agora começara a chorar, e eu corri atrás delas. Vi kate falando com alguns motoristas, pedindo carona, ajuda. Eu não podia deixa-la ir com quem quisesse e levar Emily. Era perigoso demais, e já me sentia responsável pelas duas.
- KATE! - Gritei, e ela olhou pra trás enquanto o motorista saia com seu carro pela estrada.- Eu estava quase conseguindo caronas com eles!- Você não pode pegar carona com qualquer pessoa que ver por aí, garota! - Peguei Emily no colo que parou de berrar.- Hey, se você não percebeu é o fim do mundo, e eu não quero ficar aqui pra ser devorada ou morta! Me devolve a Emily.- Não. Se você quer ir de carona com um estranho, vá sozinha.- Tudo bem! Eu não ligo pra isso mesmo.
E se afastou de volta para os carros. Tinha mudado o comportamento ao extremos em segundos. Emily agora chorava se parar, e parecia estressada. Caminhei pela beira da estrada até um grupo de homens armados e vestidos com roupas do exercito. Pedi informação, ajuda, e o homem gritou comigo, com raiva, cuspindo em minha face e fazendo Emily chorar ainda mais. Mandava-a calar a boca, e me afastei, com medo de ser morta ali mesmo. Fiquei sentada na beira da estrada chorando abraçada a Emily, que tinha ficado quieta novamente. Eu estava exausta.
Depois de um tempo, comecei a ouvir a voz de uma mulher gritando ao longe, enquanto lanternas eram apontadas ao meu rosto e corpo. - Emily! Emily! - A mulher gritava, e logo a criança foi arrancada dos meus braços. A mulher agradeceu a mim a vagamente, e correu para seu carro levando a criança. O meu último pingo de esperança havia ido embora, e eu estava sozinha. De novo. Como sempre tinha sido na minha vida. Então um dos homens armados que antes tinha me expulsado me pegou pelo braço dizendo que conseguira um espaço pra mim em um dos carros.
- Cadê a criança?- Não está mais comigo.- Melhor assim.
Talvez fosse, pensei. Fui colocada na traseira de uma caminhonete, junto com mais 7 ou 8 pessoas. Todos estavam calados, e depois que os carros foram pegando as estradas que mais lhe davam segurança ou esperança, nosso carro ficou sozinho em uma longa e reta estrada. Ninguém falava. Ninguém chorava. Só se ouvia o barulho do carro e do motor.
- Ah não.
Um homem falou, espiando por cima da cabine da caminhonete. Olhei também. Uma iluminação rápida se aproximava. Mais de 40 das lesmas estavam vindo em nossa direção. O motorista dava a ré, mas alguém gritou e ele freou. Atrás de nós também vinham uma manada delas. Todos pularam do carros começaram a correr em todas as direções. Corri junto com mais três homens para a floresta, mas logo um senhor ficou pra trás e ouvimos seu grito ecoando enquanto um dos animais o tocava. Eu consegui ver, mesmo a certa distância, que o homem parecia simplesmente dissolver ao toque do ser. Os gritos era cada vez mais constantes e então me vi sozinha e cercada.
Foi rápido. Eu senti uma dor na coluna, mas não era tanta dor quanto eu esperava. Mas o grito que eu dei era alto, mesmo que eu não quisesse, minhas cordas vocais simplesmente não me respondiam. Pela primeira vez naquele dia, o meu medo era me calar, pois eu sabia que assim que parasse, estaria morta. Pensei em Emily. E em Kate. Nos meus pais que não via a tanto tempo, e só agora senti falta deles. Meus poucos amigos. Eu tinha ficado sozinha por pouco tempo naquela noite, mas os minutos em silêsncio foram o de maior solidão na minha vida. O silêncio foi tanto que fiquei surda.
Fonte: Creepy Group ò.ó