quinta-feira, 31 de março de 2016

Um homem que estava desaparecido a 137 anos, reapareceu na delegacia em que eu trabalhava.

Falaram que é o nativo em mim que me torna um bom desvendador de trilhas. Já encontrei 16 pessoas desaparecidas em Nevada, 23 na Califórnica, 49 em Utah e mais centenas em Washington. Descobri que a cidade de Black Lake no estado de Washington é a mais bonita, e é onde eu quero descansar com a mulher que conheci enquanto pescava no lago. Ela foi sortuda em conseguir um emprego como professora da segunda e quarta série da escola fundamental local, eu fui sortudo suficiente para conseguir um emprego no departamento da polícia local e ganhar dinheiro suficiente para provir para minha família, a qual agora incluiu uma bebêzinha também.


A delegacia de Black Lake me colocou em casos de pessoas desaparecidas, os quais haviam vários. Uma cidade desse tamanho deveria ter uma dúzia de desaparecimentos por ano, no máximo. Uma cidade grande deveria ter milhares, mas Black Lake tem uma história de mais de dezenas de milhares de sumiços, o que foi abafado pelos políticos locais. Fiquei sabendo pelo antigo comandante que bairros inteiros sumiam da noite para o dia, e que eu tinha que dar o meu máximo para encontrar algumas dessas pessoas. Mas eu nunca encontrei um desaparecido no meu curto período de estadia em Black Lake.


Em um fim de tarde, enquanto eu estava em um plantão noturno enquanto Rod Serling me falava através da TV em preto e branco sobre o auge do conhecimento e medos dos seres humanos, um homem com com os pés embrulhados, calças bem detonadas e uma camiseta de pijama ao contrário, entrou dentro da delegacia, olhou em volta com um olhar assustado e me pediu um copo d'água.


Levei o homem até a sala de interrogação e servi a ele um copo d'água. Perguntei seu nome, e me respondeu que era Silas MacMurray. Coloquei o nome dele na pesquisa do meu celular, ele observou como se fosse um equipamento alienígena. O nome dele coincidiu com um nos arquivos de desaparecidos. O nome era dos arquivos da antiga delegacia, era um relatório de uma pessoa desaparecida em 1879, o qual estava anexado um lindo desenho feito a mãos do homem em questão, desde o o nariz torto até a barba rala. Era ele ali na minha frente, sem dúvida nenhuma. Silas era um vendedor de máquinas a óleo e bastante amado por sua comunidade, como dizia em sua ficha. Mostrei para ele meu tablet, o qual ele pegou em suas mãos como se fosse uma relíquia sagrada e brilhante. Fico envergonhado em dizer que achei que ele estava drogado quando perguntei como havia chegado ali. Aqui em baixo há uma transcrição da gravação da sala feita as 22:34:


"Acordei em uma noite precisando usar a latrina. Quando lá fora, fui banhado por uma luz branca. Não lembro de mais nada até o quarto rosa, onde vi o pouco que havia para ver: vários escravos como eu separados por galés, todos coletados de zoológicos por todo universo. Algo... me disse que tudo aqui, incluindo humanos, há muito tempo atrás era uma raça inteligente, mantidos em nosso planeta para proteger o... ambiente? Eles pegavam apenas os saudáveis e felizes. Eu estava na segunda galé, a segunda mais difícil de se comunicar - eles apreciavam a primeira galé. Há criaturas acima de nós, me refiro a nós homens, são criaturas de pura luz e energia. Esses que comandam a nave conversam com eles o tempo todo, estão sempre livres. Todos na segunda galé eram escravos como eu. Não sei o que eles fazem com a última galé. Eu já vivi mais de mil anos, senhor, isso posso falar até para Deus. Naquela época, eles me entregaram como um brinquedo, um entretenimento, um animal de estimação. A cada cem anos eles me mandam aqui para baixo por uma noite, pois acham que isso vai me deixar mais feliz, mas não, não me deixa. Então - por favor, me mantenha aqui. Me prenda na sua cela mais resistente, te imploro. Eles não podem me levar novamente, tenho certeza que nunca retornarei. Não sou mais saudável nem feliz."
Com o pedido do senhor MacMurray, eu o levei até a "sala silenciosa", uma cela de concreto acolchoada com uma porta de tranca tripla. Eu dormi sentado em uma cadeira de metal do lado de fora da cela dele, armado com uma espingarda carregada, mas fui acordado por uma luz branca cegante e algo que parecia o som do maior velcro do mundo sendo separado um do outro. Sumiu tão rápido quanto apareceu. Eu destranquei as três trancas da porta e abri para descobrir que Silas havia desaparecido. Demorei duas horas para explicar os eventos daquela noite. Voltei para minha casa cansado, esperando ver minha linda família. Encontrei nada mais que uma casa vazia. Usei todos os recursos que tinha para tentar encontrar minha amada esposa e querida filha, mas no final elas se tornaram apenas mais duas pessoas desaparecidas na cidade de Black Lake.
Elas eram felizes e saudáveis, sabe? Foi por isso que foram levadas, junto com Silas. Acho que, inclusive, Silas estava feliz trancado dentro da cela pois eu disse que ele estaria seguro. Eu nunca serei levado pela nave, pois nunca mais serei feliz.


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