Não sei o que dizer ao relatar algo assim, simplesmente o
medo ainda me mantém paralisado e sem reações definidas as quais eu deveria
tomar uma atitude e rápido, porém, até então não tenho muita escolha além de
continuar com a vida normal que um dia eu tive... Quando eu ainda lembrava meu
nome.
Para falar a verdade minha vida nunca foi normal como a de
qualquer outro garoto de 16 anos deveria ser, mesmo assim sempre tentei ignorar
pequenos detalhes que hoje viraram o problema que assombra meu presente.
Detalhes que eu sempre denominei como o meu casal de irmãos gêmeos mais novos.
Claro que todo mundo tem seus problemas comuns de família,
pequenas brigas alheias entre irmãos e tudo mais, porém, o meu caso é
diferente. Eu não tenho essas brigas entre irmãos nem nada, pelo contrário, eu
bem que queria ter, tornaria minha vida mais normal e menos preocupante. Pode
parecer estranho da minha parte, mas eu acho ainda mais estranho ter um casal
de irmãos gêmeos, praticamente idênticos (se não fossem de sexos opostos, seria
impossível identificar) que não tem o menor contato comigo. Mesmo estando
debaixo do mesmo teto que eu!
Bem... Fora esses pequenos fatos quase inúteis, o que irei
retratar agora é o que realmente importa. Como devo dizer...
Meus irmãos sempre foram estranhos e eu aprendi a me
acostumar com isso, porém, esse ano a menos de três meses, quando eles fizeram
sete anos tudo ficou mais tenso dês de então. Notei que os lindos olhos azuis
de Lucy e Luck adquiriram um tom negro e profundo para Luck, como se ele
estivesse sugando sua alma, e um vermelho vivo e sombrio para Lucy, como se ela
agarrasse sua vida e simplesmente tirasse toda sua esperança de viver. O mais
estranho é que parece que apenas eu consigo reparar isso. Como se eles
escolhessem sua presa antes de possui-la ou mata-la, antes de torturarem ela
sem piedade, como os olhos da morte...
Outra coisa que andei reparando é que a boneca de pano que
Lucy sempre carrega parece estar sempre me olhando, me vigiando, quase como os
olhos de Lucy, me deixando igualmente desconfortável. E como se não bastasse
toda noite eu encontro o carrinho de mão do Luck ao lado da minha cama com seus
faróis acesos em minha direção, como pequenos olhos que me vigiam enquanto
durmo sugando meus sonhos e pensamentos para que seus pequenos círculos de luz
continuem brilhando e meus pesadelos permaneçam.
Porém, isso tudo acaba aqui... A mais ou menos uma semana
tenho ouvido as vozes de meus irmãos em meus sonhos, pesadelos e me seguindo
durante o dia, em todos os lugares, como se eles estivessem escondidos em algum
lugar próximo apenas me observando e aguardando a hora certa de agir. Ouço
pequenos risos de Luck, que vão ficando cada vez mais altos e frenéticos
conforme me aproximo do local de onde se originam. Também escuto uma pequena
música sem fim, uma espécie de “la la la” sendo cantarolada pela Lucy em um
ritmo suave, sarcástico e sombrio, como se ela estivesse zombando do meu estado
nervoso e neurótico. O pior nisso tudo é que esses tais acontecimentos ficam
cada vez mais frequentes e piores, estão me levando à loucura. Não sei até
quando conseguirei suportar, pois garanto, não sou mais o de antes dês de então
e imagino que só devo piorar.
A cada dia sinto que chego mais perto do fim dessa grande
tortura. A cada dia sinto mais medo. A cada dia sinto que tudo fica pior e mais
sombrio... Até que, o que eu achava ser o fim estava só começando. Após acordar
de um terrível pesadelo me deparo com os meus irmãos, apenas lá, parados ao
lado da minha cama me encarando, Lucy com sua boneca de pano e Luck com a
cordinha que puxava seu carrinho. Olhos sombrios, me sugando, me fazendo
esquecer quem realmente sou. Eu me sentia um pouco tonto, fora de foco, porém,
consegui reconhecer um grande sorriso em suas faces sombrias sob a luz da lua
que entrava pela janela. Um sorriso e então... Sangue! Muito, mas muito sangue
saindo de suas bocas sorridentes e olhos profundos. E antes que eu percebesse
as vozes deles voltaram a me perseguir, Luck ria mais alto e freneticamente que
nunca e Lucy não parava de cantarolar a “música da morte”.
Eu não aguentava mais, estava no meu limite, eu já havia
esquecido tudo que poderia um dia me identificar como o garoto que já fui um
dia. Aqueles olhos cheios de sangue não apenas me observavam, estavam levando
minha alma para o abismo do esquecimento, apenas me arrastando até lá, apenas
me torturando até aquele momento, o momento certo para terminar de sugar minha alma
e levar tudo àquilo que um dia chamei de vida...
Lucy soltou a mão de sua metade e se aproximou de mim
tirando de trás de sua boneca um punhal ainda sujo se sangue, porém reluzente.
Sorrindo ela parou de cantarolar e disse:
- Não se preocupe logo você terá esquecido tudo isso...
A última coisa que vi e ouvi antes de empurrar Lucy e sair
correndo do meu quarto até o quarto dos meus pais foi Luck rindo loucamente, o
riso que não parava de me perseguir e ecoar em minha mente.
Após atravessar todo o corredor e entrar correndo e mais
desesperado que nunca no quarto dos meus pais, não podia me deparar com coisa
pior... Meus pais estavam banhados em sangue, minha mãe pendurada pelos cabelos
no ventilador que ainda girava lentamente e meu pai preso na parede por pregos
nas mãos, nos pés e um bem no meio de sua testa. O quarto era uma poça de
sangue e eu ainda conseguia ver, mesmo sob a escuridão, os órgãos e tripas dos
meus pais espalhados por toda parte.
Eu não aguentei, vomitei ali mesmo no chão cheio de sangue.
Sentia as lágrimas e meu coração mais acelerado que nunca, podia jurar que ia
ter um infarto ali mesmo. Mas não podia continuar assim, no final do corredor
os gêmeos se aproximavam da mesma forma de sempre, rindo loucamente e
cantarolando sombriamente. Com minhas últimas forças levantei, desci as escadas
quase caindo por causa da tontura e fui até a porta da frente na esperança de
fugir... Mas de tudo que já tinha acontecido essa era a última coisa que eu
esperava acontecer... Ao abrir a porta, em vez de ver a rua, casas, pessoas,
talvez um mendigo ou outro, eu acabei me deparando com o nada, com a escuridão,
apenas um vazio negro e sombrio, simplesmente o nada...
- Assustado, irmãozinho?! – disse Lucy que já estava atrás
de mim apenas esperando a hora certa.
Ela continuava com o punhal, calma, obscura, e murmurando a
“música da morte” entre os lábios.
- Parece que você esqueceu até onde morava, irmãozinho. Não
se preocupe você se esquecerá disso também...
E essas foram às últimas palavras que ouvi antes de esquecer
tudo e todos... Porém os risos e a música da morte assombrarão todos que
esqueceram e todos que esquecerão...
Escrito por: Barbara Klarisa Stanescos
Fonte: Creepy Group ò.ó
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