Cansado e inquieto, em completa perdição
O manto negro da noite zombava de mim
Sem saber o que fazer, esperava pelo fim
Sem estrelas no céu, sem referência a seguir
A esperança em meu peito ameaçava ruir
Densa mata, encorpada, uma cortina cerrada
Triste sina elaborada por uma rota mal traçada
Pesadas gotas derramadas com dor e fúria
Açoites selvagens, desolação em um canto
Chuva e lágrimas mescladas, ingrato pranto
Ninguém para ouvir o som da triste lamúria
O ribombar de um trovão fez disparar o coração
Mas o clarão na imensidão acendeu minha visão
Entre os arbustos surgia uma passagem anormal
Envolta em trevas, ameaçadora, era a saída, afinal
Mergulhei na escuridão com um andar hesitante
Sombras soturnas, traiçoeiras, por ali se estendiam
Vislumbrei em todo chão uma névoa nauseante
Sufocantes sensações que pelo medo me prendiam
Tentei gritar, tentei fugir, voz e pernas não obedeciam
Gargalhada insana a que ecoou pela extensão daquela trilha
Figuras estranhas, desconexas, surgiam e desapareciam
Mas era humana a que sorria, uma macabra mulher andarilha
Crus e castanhos os caracóis que pendiam de sua cabeça
Em escarlate vivo se tornaram, por mais incrível que pareça
Como chamas, brasas vis, seus olhos vítreos insistiam em faiscar
Dos lábios rubros, as notas firmes, força nefasta a me dominar
A melodia irresistível me falava direto à mente
Dizia-me que tudo não era um sonho somente
Ela queria minha vida, minha carne, o sangue e a alma
E com seu canto falava isso, voz plácida, serena, calma
Então entendi que a dama daquela terra, eterna rainha
Dos descaminhos sombrios, ceifava vidas, como a minha
Guiava os perdidos num percurso hediondo, sem retorno
Meu corpo era arrastado, derramava o sangue morno
Manchava o barro, queimava o espírito, pele dilacerada
Ainda esbarro em rochas frias, vejo uma lâmina afiada
Ela me diz que uma vez ali, não há jeito de escapar
A foice sobe, o golpe vem, para sempre me silenciar
Um pensamento surge, enquanto sinto minha vida sumir
Para fora do meu corpo, toda a energia segue livre a fluir
Pela escuridão daquele caminho eu não deveria seguir
Ali nenhuma salvação, apenas maldição poderia existir
Flávio de Souza
Dos descaminhos sombrios, ceifava vidas, como a minha
Guiava os perdidos num percurso hediondo, sem retorno
Meu corpo era arrastado, derramava o sangue morno
Manchava o barro, queimava o espírito, pele dilacerada
Ainda esbarro em rochas frias, vejo uma lâmina afiada
Ela me diz que uma vez ali, não há jeito de escapar
A foice sobe, o golpe vem, para sempre me silenciar
Um pensamento surge, enquanto sinto minha vida sumir
Para fora do meu corpo, toda a energia segue livre a fluir
Pela escuridão daquele caminho eu não deveria seguir
Ali nenhuma salvação, apenas maldição poderia existir
Flávio de Souza
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