Phillip e eu nos conhecemos através de uma festa de Natal da empresa, há cinco anos. Na verdade eu nunca tinha o visto antes, o que não é incomum, a empresa para a qual trabalhamos tem mais de 300 funcionários. Eu estava lá com uma amiga que trabalhava no mesmo departamento que Phillip e na realidade não parecia que ela iria nos apresentar; mas ela nos apresentou. Ele veio até nossa mesa para fazer uma piada sobre como o chefe do QC já estava bem “alto” e colocando a culpa em um assistente, nós nos demos bem.
Fofocas sobre nós giravam e rodopiavam como um redemoinho. Phillip estava no caminho de ser promovido a gerente e eu ainda estava mergulhada nos estudos para terminar meu MBA. Em nossa empresa, experiência não significa muito considerando as pessoas em pele de cordeiro que vetam você. Eu poderia passar dias contando histórias sobre idiotas graduados que não deveriam ter permissão para liderar um desfile, quanto mais um departamento inteiro. O ponto é: a fofoca era que eu estava namorando Phillip para crescer na empresa. Isso ficou tão ruim que deixamos de ir aos eventos da empresa juntos. Phillip ainda ia, ele teve com os mandachuvas e jogar o jogo político do escritório. Eu ficava em casa ou saia com minhas amigas. Dentro de um ano eu deixei a empresa para um cargo com melhor salário e o mais importante: sem fofocas.
No ano seguinte nós nos casamos. Eu sei que toda mulher pensa que o próprio casamento é o casamento do século, mas o nosso foi verdadeiramente especial. Nós nos casamos na igreja que eu frequentava desde que mudei para Boston, com o sol brilhando através das janelas de vitral. Enquanto eu caminhava para o altar, Phillip me viu e chorou. Quando ele colocou a aliança no meu dedo, uma faixa fina de ouro com um pequeno diamante, suas mão tremiam. Logo após nosso primeiro beijo como marido e mulher, ele sussurrou em meu ouvido: “se você multiplicar todas as estrelas do céu por todos os grãos de areia de todas as praias, ainda assim você nunca chegará perto do quanto eu te amo”. Durante nossa primeira dança, ele sussurou a letra da nossa música. Fiquei tonta de amor. Passamos a lua de mel em Bali e, embora nunca tenha sido dito em voz alta, a esperança era que eu engravidasse.
Phillip e eu sabíamos que o relógio estava contra nós. Embora fossemos jovens, meu relógio biológico estava tocando alto. Eu tinha trinta e três anos e minha fertilidade estava em declínio. Os médicos disseram que, estatisticamente, minha fertilidade havia caído 20%, mas que se isso não acontecesse em um ano então nós deveríamos nos preocupar. Phillip e eu não estávamos preocupados. Nossa vida sexual era fenomenal. Deus, não acredito que estou dizendo isso na internet. Mas é verdade, nós fazíamos amor frequentemente, como se o destino do mundo dependesse disso. Nós sabíamos que já queríamos um filho. Ele estava esperando que fosse um menino, todos os caras esperam, não? Um garoto para jogar bola, pescar, que se pareça com o pai. Eu já não me importo muito. Eu estava ansiosa para viver a gestação. O enjoo matinal e tudo, eu queria a barriga grande e sentir os chutes.
Finalmente, oito meses de casados e recebemos a notícia: eu estava grávida. De gêmeos, nem mais, nem menos.
Phillip e eu estávamos muito empolgados, para dizer o mínimo. Meus pais imediatamente se ofereceram para pagar a creche com todos os serviços. Os pais dele morreram há anos, mas quando visitamos o túmulo e contamos a eles, ele disse que sentiu como se tivessem dado sua bênção. Eu senti como se minha vida fosse realmente abençoada, nós tínhamos mesmo um círculo completo. Eu tinha um ótimo trabalho, meu marido tinha um ótimo trabalho, eu estava a dois semestres de concluir o MBA, estava grávida e meus pais iam pagar a creche dos dois bebês. Nós começamos a procurar uma casa. Tínhamos um apartamento de dois quartos, mas não acho que 60 m² seriam suficientes com os gêmeos rastejando. Phillip encontrou uma antiga casa de fazenda fora da cidade e embora fosse um pouco mais cara que o nosso orçamento, nós a compramos.
Foi quando as coisas começaram a se desfazer.
Eu nunca quis viver fora de Boston. Eu cresci na confusão e agitação da cidade; achei que tivéssemos o acordo de comprar uma casa na cidade. Mas Phillip foi insistente sobre a fazenda. Eu não gostava que isso adicionasse uma hora ao meu trajeto e 45 minutos até o hospital que escolhemos. Phillip dizia que as mães de primeira viagem tinham longos trabalhos de parto, e não era como se estivéssemos em um lugar remoto. Além disso, eu tinha que admitir que seria bom ter um quintal grande.
Três semanas depois de assinarmos os papéis, descobri que os gêmeos eram um menino e uma menina. Phillip tinha uma expressão estranha em seu rosto. Quando o ultrassom mostrou o primeiro bebê, nosso filho, parecia que ele tinha ganhado na loteria. Quando a imagem mostrou mais para a direita, nossa filha, ele vacilou. Ele olhou como se tivesse levado um soco no estômago, mesmo que apenas por um segundo. Foi tão breve que eu me perguntava se havia imaginado. O técnico em ultrassom nos perguntou se não tínhamos pensado nos nomes. Antes de eu abrir a boca, ele respondeu “Henry Sebastian.” “E para sua filha?” “Ela não tem nome.”
O técnico recuou e eu ri nervosamente. Eu disse que ele realmente estava esperando por um menino, então ele não tinha pensado com muita antecedência. Phillip sorriu e concordou. Eu tentei não pensar em nada disso. Quando chegamos em casa, perguntei sobre a importância do nome Henry Sebastian. Nós nunca tínhamos discutido o nome nem nunca tinha ouvido ele falar que tivesse qualquer preferência.
“Henry Sebastian é um nome de governante. Henry significa poderoso. Sebastian significa reverenciado. Nosso filho será reverenciado e poderoso.” “Tudo bem... e sobre nossa filha?” “Eu não ligo.”
Eu estava perturbada por ele pensar tanto no nome de nosso filho que ainda nem nasceu e não pensar no nome de nossa filha, mas ele esperava tanto por um menino. Ele só precisava de algum tempo para se acostumar com a ideia de ter uma filha, era isso.
Minha mãe e eu começamos a trabalhar na decoração da casa nova. Phillip era exigente com a pintura das paredes, mas ele era amoroso, carinhoso e adorável. Ele massageava meus pés e minhas costa, e muitas vezes colocava a mão na minha barriga cada vez maior. Mamãe e eu escolhemos os berços e decidimos o tema para o quarto: patos amarelos.
Phillip, que era um participante ativo para o resto da casa, era decididamente inativo para o quarto dos bebês. Mamãe disse que era normal. Phillip estava nervoso sobre como se tornar um bom pai, ver o quarto o deixava mais nervoso.
Duas semanas depois, em uma consulta de rotina, minha médica perguntou se queríamos fazer uma amniocentese. Ela disse que iria testar coisas como espinha bífida, síndrome de down e fibrose cística. A Dra. Whiting afirmou muito francamente que, se um ou ambos os gêmeos apresentassem uma anomalia grave, poderíamos escolher por um aborto seletivo. Fiquei horrorizada por esta ser uma opção. Phillip disse que iria manter a mente aberta sobre essa opção em particular. Olhei para ele como se fosse um estranho.
Quando chegamos em casa, eu literalmente gritei do fundo de meus pulmões para ele. Minha garganta doía e eu gritei com muita força.
“Matar um de nossos bebês?! Vá se foder, Phillip!”
“Isabelle, pense nisso. Se um deles for gravemente deformado, você acha que poderá lidar com isso? Com a sua carreira e a minha? Você acha que é justo com a criança? Ela teria uma vida que não é nada, com os testes, médicos e cirurgias. Eu acho que nós precisamos descobrir antes de seguirmos um caminho. Amor, tenho certeza que está tudo bem. Tenho certeza que dentro da sua barriga linda os dois bebês estão bem. Mas eu acho que precisamos manter a cabeça aberta.”
Quanto mais ele falava, mais eu era tranquilizada. Não me dei conta no momento, mas sempre que ele se referia ao bebê que poderia ter um defeito de nascença, nunca era nosso filho, era sempre nossa filha. Se eu tivesse percebido isso, talvez eu estaria segurando dois bebês em vez de um.
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CONTINUA...
(Fonte:Creepypasta Brasil)