terça-feira, 9 de outubro de 2012

História Bizarra:Nada faz sentido



Nada faz sentido.

Nada. Haviam passado-se anos, e nada se realizou.

Casei-me, tive filhos, arranjei um emprego, me mantive e cresci dentro dele, tinha tudo pra me manter em uma vida razoável, mas nada havia se realizado.

Meus sonhos mantinham-se distantes, minhas esperanças nulas.

Minha vida rumava há um buraco negro, cheio de caos, vazio, e solidão.

Não havia porque continuar.

Mesmo assim, ainda mantinha minha casca alegre, minha família, amigos, todos achavam que eu era a pessoa mais satisfeita do mundo.

Ninguém podia saber dos meus medos, das minhas angustias, minhas fraquezas. Porém, já não tinha como continuar. O medo me seguia por todos os cantos. Meus prantos eram em silêncio, mas eram contínuos.


Passaram-se meses, e eu não havia dormido sequer vinte horas. Não havia, mesmo, um porque continuar.

O tiquetaquear do relógio me assombrava, os rangidos noturnos da casa mais ainda. Pareciam rir de mim. Riam o tempo todo. Meus amigos, minha família, estranhos na rua, todos riam de mim, gargalhavam.



O suor escorria pela minha testa. Minhas mãos tremiam como nunca. Não havia mais o que fazer, os demônios todos me cercavam. Me assombravam. Em meio a esse mar de tormentas, não havia mais o que fazer, a não ser puxar o gatilho e acabar com tudo.

Meu desespero chegara ao fim. A luz veio a meus olhos, minhas metas foram alcançadas.

Sorrio, penso como o mundo é um lugar horrível.

          

O metal frio encostado em minha fronte, os últimos segundos de tensão, a pressão sobre o gatilho, e o barulho da bala atravessando meu cérebro, abrindo minha cabeça, e, enfim, me trazendo paz.



De repente, tudo fez sentido.

História Bizarra:Numero Desconhecido

"MEU DEUS!", eu gritei ao ser acordado de surpresa pelo meu novo toque de halloween do celular. Não me lembrava de ter mudado o toque mais cedo, então levei um susto até me lembrar de onde ou o que era. Levei um tempo para encontrá-lo preso no meio das almofadas do sofá. O fato da luz baixa da estática na tv ser a única luz não ajudou muito na busca.

"Número desconhecido."

Atendi e não ouvi nada do outro lado. Para ser honesto, eu esperava uma respiração desesperada ou qualquer outra coisa assim do outro lado da linha, pelo fato de eu ainda estar um pouco assustado, mas não havia nenhum barulho.
Desliguei, respirei fundo e franzi o cenho. Talvez eu só liguei uma chamada falsa sem perceber. Como a maioria dos telefones, julguei que esse também tivesse essa função, mas como não o conhecia direito ainda...
Meu pai comprou um usado essa semana, quando perdi meu outro na viagem até aqui, pra esse fim de mundo. Procurei no menu mas não achei essa opção. Irrelevei.

Xinguei e decidi assistir tv ao invés de ficar pensando muito. Tentei usar a luz do celular para achar o controle remoto, sem muito sucesso. Morrendo de preguiça, me arrastei do sofá para a parede até o interruptor. Dei uma leve pausa no caminho ao perceber que a tv era dos canais de satélite, e agora estava com estática de antena. Ignorei e segui, ligando a luz.
A luz intensa me cegou por uns segundos, respirei fundo de novo e percebi como estava tenso por nada. Era estranho ficar sozinho em casa.

Meus pais haviam saído de noite e eu preferi ficar, assim como havia feito durante o dia. Como eles nunca saíam, era uma situação diferente. Nada além de mato nesse fim de mundo em que estávamos, então com eles saindo eu tinha solidão total.
Continuei procurando pelo controle pelo sofá. Fui em um braço, no outro, e me abaixei para por a mão em baixo dele, fatalmente encostando meu ouvido no celular que estava ali em cima. Obviamente, o celular tocou, bem dentro do meu ouvido.
"PUTA QUE PARIU!", foi minha reação. Atendi, e mais uma vez, só silencio. Em fúria e xingando, joguei o celular no sofá.

POP! A lâmpada da sala explode e a estática da televisão vira aquela preto com um chiado e um risco branco no canto esquerdo. Penumbra reina. Corri, peguei meu celular, me joguei na cama e me enrolei em posição fetal após momentos de escuridão terrível. Com o pouco de luz que conseguia através da tela do meu celular, já me senti mais seguro. Respirei até me acalmar e decidi ligar para meu pai. Olhando para a tela do celular, descobri que não havia desligado a última chamada. Segurei minha respiração quando notei que conhecia o número que me ligara. Não era desconhecido. Era meu número. Meu número antigo.

Apertei o botão de encerrar chamada, desesperado. Comecei a criar mil situações que se desencadeariam daquelas chamadas. Então algo pior chamou minha atenção. Minha cama já estava quente.

Mensagem nova. Abri. Li.

"Está de baixo do travesseiro." Lentamente levantei o travesseiro para encontrar o controle remoto.

De baixo das cobertas ouvi o som da minha porta do quarto fechar. Suor frio escorreu pela minha testa, meu coração apertado e minha cabeça explodindo, e então, ouvi a porta de novo. Sendo trancada.